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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Um pouco da história dos índios que habitaram São Francisco do Glória – Os Puris

Você sabia que os índios da nação Puri habitaram nossa região? Provavelmente muitos franciscanos sejam descendentes desta etnia. Muitos habitantes mais antigos falam da possibilidade de parentesco com estes índios. Temos exemplos de pessoas cujos apelidos são em alusão a este povo.

Rugendas
Os Puris da Serra dos Arrepiados, hoje Serra do Brigadeiro.

Os índios Puris eram hábeis pescadores que viviam originalmente no Litoral do Espírito Santo e Rio de Janeiro. No entanto, tiveram que se adaptar às regiões serranas a partir de 1500 em conseqüência da chegada dos portugueses, e a consequente escravização, algo que os Puris não suportavam, comum em todas as tribos.

Foi então que se viram forçados a se acuar pelo interior do Brasil. Em uma dessas imersões chegaram à região da Serra do Brigadeiro, um dos seus últimos redutos, antes denominada Serra dos Arrepiados. Encurralados pelos europeus e por algumas tribos indígenas mais selvagens como os Boruns, mais conhecidos por Botocudos ou Aymorés, dominantes do Vale do Rio Doce. A única opção de sobrevivência foi mesmo se adaptar às matas fechadas e ao frio da Serra dos Arrepiados, nome esse dado em referência aos Puris. Em 1680 o Capitão Antônio Raposo de Barretos, em uma de suas “Bandeiras” na caça aos índios, escrevendo ao correspondente comercial no Rio de Janeiro, expressava receio de perder os 40 (quarenta) Puris que seu filho tinha trazido da Serra da Mantiqueira.

Em 1693, outro bandeirante chamado Antônio Rodrigues de Arzão, tendo em uma de suas expedições partindo de São Vicente e passando por Taubaté a procura do Pico do Itacolomi (referência para os bandeirantes em suas expedições pela região do interior de Minas) marchau para a Serra do Guarapiranga com o objetivo de prear índios. Avistou a Serra dos Arrepiados que lhes pareceram mais próximas do que realmente estavam, desceu em sua direção e alcançou o Rio Piranga, onde vagavam alguns índios da nação Puri, que lhes deram notícias da existência de ouro na região do Rio Casca e os guiaram até a Serra dos Arrepiados, alojando-os em uma choça de casca de madeira, denominada Casa da Casca, nome que posteriormente foi transferido ao Rio Casca, o qual conserva até hoje. Nesta ocasião foram recolhidas amostras de ouro e vários índios foram levados.

Com a descoberta do Ouro na região, outros bandeirantes investiram nesta região, porém só a partir de 1780, com a nomeação de D. Rodrigo José de Menezes a Governador da Capitania de Minas Gerais, que realmente começaram o extermínio aos Puris dos Arrepiados. Com a crise do ouro e preocupado em aumentar os campos das minerações, e sabendo da existência de ouro na região da Serra dos Arrepiados, de imediato organizou-se expedições para a região, sendo a primeira datada de Julho de 1780 com permanência de um ano, onde ocorreram várias mortes e escravização de índios puris

A segunda expedição, de Julho de 1781, foi mais desbravadora. Com a vinda do próprio governador e por mando seu, na ocasião fundou-se o Arraial dos Arrepiados (hoje Araponga). Por toda a região foram feitas abertura de caminhos, distribuição de terras e incentivo à mineração e à agricultura. Os conflitos entre índios e brancos se tornaram então cada vez mais freqüentes e contínuos, acarretando então na matança dos índios que não eram, à época, considerados, pelos “invasores”, ou melhor, pelos europeus, donos das terras nem seres dignos de respeito.

Com isto, viu-se a necessidade de intensificar o processo de “civilização”, criando aldeamentos sem nenhum critério, misturando-se tribos e etnias diferentes, introduzindo, sem nenhum respeito à sua cultura, os valores europeus. Os índios que se rebelavam ou aqueles que não se submetiam a tal, eram caçados e praticamente exterminados através de guerra bacteriológicas principalmente com o vírus da varíola introduzida aos índios através de presentes. Também eram comuns massacres promovidos por soldados do governo e até mesmo o estímulo de guerras entre tribos, além de matanças isoladas, promovidas por fazendeiros, que se viam no direito de eliminar “obstáculos”.

O índios Puris só conseguiram sobreviver por mais tempo devido à sua imersão em matas e serras de difícil acesso, como a Serra dos Arrepiados, que até ao final do século XIX, mantinham-se boa parte de sua cultura e costumes, alguns destes ainda preservados por famílias, que a priori, se dizem descendentes dos indígenas.

Até pouco tempo julgava-se extinta a cultura e o povo Puri, porém, mais recentemente, tem-se notícia da existência de inúmeros descendentes que guardam a língua, a história, os costumes e outros saberes, além de marcarem presença no folclore e no imaginário religioso.

Os Índios Puris são lembrados até hoje através de suas heranças culturais, podendo-se destacar a Dança de Caboclo, uma das mais importantes manifestações folclóricas da nossa região. Esta dança é praticada hoje sob a forma de apresentação artística, pelo grupo FOLGUEDO dos ARREPIADOS.

De acordo com pesquisas realizadas, esta dança era praticada pelos próprios índios Puris, com o passar do tempo e devido a uma forte perseguição à sua cultura, principalmente as de maior expressão, como as danças e outros rituais religiosos, foram sendo deixadas pelos seus últimos remanescentes, inibidos, e em alguns casos proibidos de cultuar e praticar seus costumes. Daí então, em memória aos Puris, descendentes e remanescentes começou a praticar a dança e cantos em forma de folclore, surgindo a popular “Dança dos Caboclos”.

Provavelmente os índios puris tiveram aldeias aqui no município de São Francisco do Glória. Caçaram em nossas matas, pescaram em nossos rios e beberam água em nossas nascentes. Provavelmente também o sangue deste povo, brutalmente extermidado pelo colonizador esteja espalhado por aí entre vales e morros.

A memória de um povo não pode ser esquecida.
Elizeu Magno de Paula

Bibliografia: Rodnei Ribas
www.cepecmg.org

4 comentários:

  1. Peofessor,
    Bela matéria. É bom saber as origens de nosso povo. E parabéns pela elegância e a ética de citar a fonte consultada, inclusive colocando o endereço. Continue assim. Belo trabalho.

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  2. Mto bom o texto, naum sabia dessa história de índio naum..... Bacana d++!!!!

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  3. oi bom dia,
    colhemos alguns depoimentos pela região, e em breve estarão sendo divulgados, alguns fazem menção à são Francisco do Glória, relatos de fazendas que mantinham índios.
    Abraços
    Rodinei – cepec / Serra do Brigadeiro

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  4. professor; a historia dos puris nesta regiao é com certeza uma realidade. minha familia descende de puris, a bisavo de minha mãe, foi *pega no laço*, assim dizia meu bisavô aos meus pais. meus pais sao da regiao de vermelho novo e vermelho velho:meus bisavos habitaram uma região por aqui denominada de: córrego da poáia (Bom jesus do galho)A poaia, como o senhor bem sabe era uma planta medicinal muito procurada pelos desbravadores. Em companhia de tropas vieram pra esta nossa região,três *senhores* de nomes: joões e fundando a cidade de caratinga se separando em três direções, um tomou o rumo a Bom Jesus do Galho onde se encontrava muito esta planta e lá se encontrava tambem muito os indios Puris.

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