RELÍQUIA DA LITERATURA FRANCISCANA
Poema escrito em 1938, por Francisco José Gomes Costa (avô do Chico
Costa do mercado), extraído do livro Caderno dos Estados – Escritos do Vovô
Costa
O poema foi escrito em
um período que a diocese não permitia que os Padres permanecessem por muito
tempo na paróquia de São Francisco do Glória.
Paróquia de São Francisco do Glória
“Padres não ficam”
O Padre neste lugar não fica,
Não fica – não fica não!
Todos ficam nesta terra
Seja judeu ou pagão
Protestantes, metodistas
Ou de qualquer religião
Costureita, modista
Sapateiro ou remendão.
Só o Padre aqui não fica
Não fica - não fica não!
Vem um Padre, vem logo
Mais outro e todos se vão,
Fica sempre a freguesia
Somente com o sacristão.
É um cubaco* e a relia**
É praga ou maldição.
O Padre em São Francisco
Não fica - não fica não!
Fica o Arthur na botica
O Vergélio no balcão
O ZÉ
Valério ferreiro
E o José do Roldão
Fica o Alípio seleiro
Fica o Roriz Capitão.
Mas Padre aqui não fica
Não fica - não fica não!
Fica também o Nascimento
Que manda no Maranhão
Fica o Jota fazendeiro
Dos Roriz também o João
Fica o David, o padeiro
Que vende bem caro o pão.
Só o Padre aqui não fica
Não fica - não fica não!
Fica o Zé Costa fiscal
Fica o Joaquim seu irmão
Fica o Gustavo e o Graciano
O João Quitério que é bom
Com a sanfona o Domiciano
O Durval, o violão.
Só o Padre aqui não fica
Não fica - não fica não.
Fica o Dornellas Major
E o
Nico com o caminhão
Fica o Pedro Pedrosa
Pedro Portes e o Pedro Romão
Fica também o Manoel Rosa
Fica o Zé Pinto Brandão.
Mas o Vigário aqui não fica
Não fica - não fica não!
Fica o autor dessa escrevança
Velho caduco e bobão,
Fica o Mesquita na escola
E o Azarias escrivão,
O Adolfo em Carangola
Neste distrito o Roldão.
Mas Padre aqui não fica
Não fica - não fica não!
Fica o compadre Iremate
Rapaz catita e pimpão
Cabereiro dessas damas
Que ebem boa profissão
Goza merecida fama
Trabalha com perfeição.
Só Padres aqui não ficam
Não fica - não ficam não!
Fica o Paulo Ricardo
Capitalista e Podão***
Alberto Freiro e o Chico
Com certeza ficarão
Fica também a Saninha
Esposa do falecido Adão.
Mas Sacerdote não fica
Não fica - não fica não!
Fica o mestre da música
Que tem o nome João
Fica também o Euclides
Filho do amo Roldão
Fica o Acácio Dornelas
Que é um camaradão.
Mas os Padres não ficam
Não fica - não fica não!
Fica o amo Soares
Que tem a sua profissão
De carapina e não nega
Que é uma distração
Fica o João Filomeno
Que fura as covas no chão.
Somente o Sacerdote não fica
Não fica - não fica não!
Fica o Manoel Gustavo
Que é um rapaz sacudidão
Também fica o Nivaldo
Que é meio valentão
Fica também o Barra Mansa
Que tem a cara de Sultão.
Mas Padres aqui não ficam
Não fica - não fica não!
Fica o Chiquinho Alfaiate
Rapaz que veio do Japão
Fica só com seus aprendizes
Só com as tesouras na mão.
Só os Padres não ficam
Não fica - não fica não!
Fica também nosso amigo
Que mora no Sobradão
Pai de três moças bonitas
Põe a gente em confusão
Ele tem um nome esquisito
Mas lhe chamam de Dadão.
Só padre aqui não fica
Não fica – não fica não!
Fica também o Nô-nô
Que do Barra Mansa é caixeiro
Fica também a D. Olímpia
Que parece um balão
Fica o Filismino
Nobre com um enorme porretão.
Mas Vigário neste lugar não fica
Não fica – não fica não!
Fica também o seu Delegado
Que tem um bom coração
Ficam também os seus filhos
Que parecem temtação
Fica o Ramiro dentista
Que só trabalha de boticão
Mas padre neste lugar não fica
Não fica – não fica não!
Fica também o Zé Pio
Nosso amo capitão
Camilo Guedes e João Marico
Com certeza ficarão
Vou dar firme amolação.
Só o Padre aqui não fica
Não fica – não fica não!
Já tinha dado por finda
Esta encrencada canção
Quando me vio a lembrança
Luiz do sítio e Zé Adão
E assim terminando
Sem saber qual é a razão.
Que o Padre em S. Francisco do Glória
Não fica – não fica não!
Costa, avô
de Irmã Rosa – Março de 1938
*feitiço.
**Arrelia:
coisa ruim, mau agouro.
***Poderoso.
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